Sniper
No sábado fomos buscá-los ao campo de férias. Já tinham as malas prontas. Fomos pagar a conta corrente (quando lá os vamos pôr dizemos qual é o tecto máximo que podem gastar em gelados e outras coisas e pagamos no fim). Enquanto tratávamos disto, eles queimavam os últimos cartuxos. Percebi no Martim que estava comovido. Perguntei-lhe se gostaria de ficar mais uma semana. Disse que sim com os olhos rasinhos de água. Engoliu em seco e saiu de junto de nós. Percebi que tinha de o fazer antes que se largasse a chorar.
Depois, fomos falar com o Nuno, o director do campo. Um tipo que há anos e anos lida com esta malta e que sabe falar "miudês" ou "adolescentês" como poucos. No ano passado fez um trabalho incrível com o Manel, que estava numa fase difícil. Tiveram muitas conversas, os dois, e aquilo surtiu um efeito verdadeiramente transformador. Foi quase mágico. Este ano ele perguntou-lhe o que gostava de melhorar. E o Manel disse. E voltaram a conversar e a reflectir e já noto as diferenças, só nestes dois dias em que esteve em casa. Sobre os outros dois disse apenas que tinha corrido tudo bem e que a Madalena era uma força da natureza, que aos 6 anos tinha uma desenvoltura como poucos. Ah, e conseguiram que comesse a sopa (houve um dia que até repetiu - obrigada D. Luísa!).
Sou completamente fã deste campo de férias e só lamento não o ter descoberto mais cedo. O ano passado foi a primeira vez que os rapazes foram, este ano foi o primeiro ano da Madalena. Para o ano quer-me parecer que vão ficar duas semanas. Já lhes disse para fazerem um mealheiro para poderem pagar a semana extra.
O campo de férias chama-se Sniper e fica em Bucelas, mesmo no meio da serra.
Todos os dias são diferentes no Sniper. E há de tudo: piscina, matraquilhos humanos, pingue-pongue, paintball, lasertag, rapel, slide, arborismo, construção de um abrigo no meio da serra e dormida de uma noite por lá, descida do rio, noite de karaoke, orientação (são deixados na serra com rádios, bússolas e mapas - creio -, divididos em equipas e ganha a equipa que chegar primeiro ao campo), passagem nocturna por uma gruta, escalada, entre outras que agora não me lembro.
O rapel é feito de uma ponte altíssima que eu creio seria incapaz de descer. A descida do rio mete água até ao pescoço e os mais velhos a ajudarem os mais novos. A gruta deve meter medo para xuxu (foi a única actividade que a Madalena não aguentou e teve se sair antes que lhe desse o chilique). A construção do abrigo implica acartar troncos e ramos e cortar feno (e a Madalena parece que também se sentiu muito cansada nesse dia - a diva). Acho que há muito trabalho de auto-estima neste campo de férias: eles fazem as coisas e, no final, olham para o que fizeram e pensam: "eu fiz isto? eu fui capaz de fazer isto? Uau!"
Os monitores são excelentes. Os miúdos falam muito neles, que são impecáveis, tão fixes, incríveis. Muitos mantêm-se de ano para ano, o que faz com que a cada novo ano haja um reconhecimento e uma espécie de "regresso a casa".
Sou franca: tenho uma pontinha de inveja. Nunca fiz campos de férias e, ao ver a felicidade com que eles saem de lá, tenho muita pena de não ter feito. Mas sinto-me mesmo feliz por lhes poder proporcionar estes dias. É que, como se não bastasse toda a diversão que têm durante o tempo em que lá estão, ainda trazem ensinamentos que aplicam depois, no dia-a-dia. As conversas com o Nuno (e com alguns dos outros) têm o condão de lhes mudar ali um chip qualquer. Vêm mais prestáveis, mais trabalhadores, mais organizados, menos conflituosos. Nós agradecemos. Não só o tempo em que a casa esteve tão silenciosa sem eles (bem precisamos de relembrar o silêncio) como o regresso, tão suave, tão polido.
Para o ano há mais! Sem dúvida! E eles já estão a fazer o mealheiro para em vez de uma semana irem duas.
Madazinha com água até ao pescoço. Eh, valente!
Malta nos tanques a lavar a roupa. Eeeerrr... digamos que há roupa que talvez não tenha salvação mas enfim...
Rapel. A ponte é tãooooo alta!
Manel em plena construção do abrigo, onde iam pernoitar
Abrigo quase pronto. Diz que dormiram muito bem