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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Ela grama hospitais

Estes medicamentos que eu conheço tão bem - sou asmática e o meu filho Martim estava SEMPRE com bronquiolites - deixam a pequena Mada ainda mais histérica que o costume. Fala, fala, fala, corre apesar de quase não conseguir atinar com a respiração, canta e salta, o que ainda a faz tossir mais. Há bocado disse que queria ir ao hospital. Gosta de lá estar, imaginem. «Vamos lá ao pistal, anda!» E, como eu não me mexia (estou mesmo exausta), ela levantou-se e sumiu. Apareceu a seguir, com um par de cuecas lavadas, um par de calças de ganga e uma t-shirt. «Veste-me! Ou então eu vou sozinha...»
E é isto. 

...

Mada voltou, às 2h da manhã. Diz que foi por um triz que não ficou internada. Demorou muito a ficar com a saturação de oxigénio nos mínimos aceitáveis para vir para casa. Ainda fez aerossol com Atrovent e Ventilan, além do O2. E veio para casa com um medicamento novo, para substituir o Celestone, de que eu nunca tinha ouvido falar: Lepicortinolo. E o tempo entre cada nova dose de medicamento encurtou. O Ventilan em câmara expansora, por exemplo, ficou prescrito para de 4 em 4 horas.
Quando chegou a casa, a Mada teve um ataque de tosse que durou para aí uma hora, ininterrupta. E há bocado outro. Está verde e cheira a fermento, aquele cheiro que eu conheço tão bem (o Martim teve bronquiolites graves e internamentos e tudo, até aos 3 anos). E hoje caguei no trabalho, no livro (sorry, I.), em tudo. Hoje vou ficar aqui só para ela. A vê-la, a ouvir aquele ferver que se escuta em cada inspiração. A ver se também durmo um bocadinho, que já nem me lembro de como se faz.
Obrigada pelas vossas palavras amigas. Isto não é nada. Mas para uma mãe é sempre um sufoco. :)

É uma da manhã...

... e pequena Mada ainda não voltou a casa. Eu e o pai comunicamos por sms e, enquanto me lembrar, nunca mais fico em casa com os saudáveis, quero sempre ir com o doente. Estar aqui, à distância, sem saber de segundo a segundo o que se passa está a dar comigo em doida.
Para já sei que ela chegou lá com uma baixa saturação de oxigénio e que foi para os aerossóis, receber nada mais que oxigénio porque tinha, há quatro horas, tomado 43 gotas de Celestone e feito dois puffs de Ventilan na câmara expansora. E também está a tomar antibiótico. O médico terá dito que não há muito mais a fazer, a não ser dar-lhe oxigénio. De resto, já tem a cavalaria toda a actuar no bucho. Depois, quando o aerossol acabou, foram para a sala de espera. O Ricardo informou: «Está ligeiramente melhor mas ainda não está bem». E agora mandou mensagem a dizer que ela foi fazer mais uma dose de oxigénio. E disse também que está quase sem bateria no telemóvel. Oi??? Pediu para esperar 30 minutos que já voltava a dar feedback. Aiiiiiiii, a sério. Enquanto me lembrar não volto a ficar em casa quando um filho for para o hospital. Estar aqui é muito pior que estar lá. Será que a vão internar?
Entretanto, esta será a minha terceira noite sem dormir.
Se me virem na rua, desorientada e aos gritos, não se surpreendam. Dêem-me um chá e uma cama lavada. E saúde aos meus amores.

Mada regressa ao hospital

Esperei até ao limite. Odeio ser olhada como a mãe-maluquinha-que-vai-ao-hospital-mal-a-criança-espirra. Ela foi piorando. O buraco na garganta primeiro começou ténue, depois foi aumentando. A tiragem intercostal foi ficando progressivamente mais acentuada. A tosse ficou ininterrupta. E quando os lábios mudaram de cor chegou a hora. Foi com o pai. Eu fiquei com os rapazes. Uma merda, é o que é. Tenho aqui o coração apertado.

...

A minha querida sogra veio visitar a Mada. Mal me apanhou sozinha fez a pergunta que tardava há tanto que eu juro que já não esperava. Fui, por isso, apanhada de surpresa. «Então e quando é que baptizam a menina?» Engoli em seco. Eeeeeeeeeeeeeerrrr... Depois, atirei a primeira coisa que me ocorreu: «Baptizamos quando vier o 4º!»
Pobre senhora. Ficou lívida. «Ai, não me diga que ainda vão ao 4º!»
Eu ri-me. E o assunto ficou logo resolvido.

...

Ontem passei por este autocarro e fiquei fascinada.


Eu a pensar que a terra das oportunidades era a América, pá! 
Afinal é Odivelas! Bem mais pertinho.
Pessoal: esqueçam os states! Odivelas rules!

Millôr Fernandes: 1923-2012


Foi jornalista, escritor, dramaturgo, tradutor, cartoonista. Mas era, antes de mais, um humorista extraordinário. E um «frasista» genial. Eis algumas das suas frases e pensamentos.

- Acreditar que não acreditamos em nada é crer na crença do descrer.
- Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.
- As pessoas que falam muito mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades.
- Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.
- De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.
- Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.
- Jamais diga uma mentira que não possa provar.
- Machão não come mel - come abelha.
- Não devemos resisitir às tentações: elas podem não voltar.
- Numa vida média de 50 anos, 80 a 100 dias são empregados pelos homens só no ato de fazer a barba. Ignora-se o que as mulheres fazem com esse tempo.
- O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde.
- O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris.
- A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.
- Viver é desenhar sem borracha.
- Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar.
- Esta é a verdade: a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito.
- Os nossos amigos poderão não saber muitas coisas, mas sabem sempre o que fariam no nosso lugar.
- Metade da vida é estragada pelos pais. A outra metade, pelos filhos.
- Errar é humano. Ser apanhado em flagrante é burrice.
- Você está começando a ficar velho quando, depois de passar uma noite fora, tem que passar dois dias dentro.
- O pior não é morrer. É não poder espantar as moscas.
- O mal de se tratar um inferior como igual é que ele logo se julga superior.
- Um homem começa a ficar velho quando já prefere andar só do que mal acompanhado.
- Ser pobre não é crime, mas ajuda muito a chegar lá.
- Pontual é alguém que resolveu esperar muito.
- Pode ser difícil encontrar agulha em palheiro. Mas não descalço.
- A gente só morre uma vez. Mas é para sempre.

Ah, claro...

... com a doença da Mada... o nosso fim-de-semana, marcado e pago há um mês e meio, foi por água abaixo. Eu ainda perguntei à médica, assim como quem não quer a coisa, se ela achava que no sábado a pequena já estaria boa e tal, para ir para um hotel fantástico, com umas piscinas maravilhosas. Ela levantou o sobrolho e disse, sem tirar os olhos do écrã do computador: «Quer mesmo que lhe responda?» Eu sorri um sorrisinho nervoso: «Não, não... deixe lá».
E pronto. Bye, bye, sítio gostoso! Até um dia destes...

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