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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Família aos bocadinhos

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Este ano as férias são feitas a três, mais raramente a cinco. A Madalena tem 1 mês e a sua pele delicadíssima não se compadece com a nossa vontade de torrar ao sol, de modo que nos revezamos e estamos menos juntos que o costume. É esquisito porque somos muito lapas uns dos outros mas, como disse o meu homem há bocado, antes de sair de casa para ir com os rapazes ver A Idade do Gelo 3, "é um pequeno passo atrás para depois podermos continuar a dar os nossos bons passos para a frente".
A verdade é que me orgulho cada vez mais de nós, da nossa descontracção, da nossa maneira de dar a volta ao texto, do modo como nos adaptamos e readaptamos, camaleónicos como só nós. Chamem-me convencida, cagona, quero lá saber. Gosto de nos ver com uma bebé de 1 mês à beira da piscina, vestida com um fato de banho lindo oferecido pela R., perante o olhar pasmado de todos os veraneantes, gosto quando ela dorme e nos deixa dar abraços debaixo de água. Gosto do modo descontraído com que dou de mamar ao mesmo tempo que janto ou almoço. Gosto quando saímos à noite com ela, porque não há melhor que a acostumar a dormir em lugares diferentes, com barulho, movimento, e porque a vida não tem de parar só porque um bebé aterrou numa casa onde já vive tanta gente.
Agora espero pelas 17.00, hora a que eles vão chegar do cinema, contar o filme, e depois vamos todos à pisicna, rezando para que ela não grite, para que possamos mergulhar todos, como uma família, enquanto ela dorme sossegadita no seu carrinho com vista para o nosso banho. Se ela gritar, também já tenho solução, graças às minhas amigas do departamento comercial e de marketing da Time Out! É verdade, minhas lindas: o sling cála-a, mas cala mesmo. É enfiá-la lá dentro e vê-la a adormecer. Depois só é preciso um cuidado extraordinário na passagem do sling para o carrinho ou para o berço. Se a transfega for feita em câmara lenta e sem respirar é bem possível que ela não acorde e que a vida seja bonita. Obrigada Cris, Rita, Ana e Vani. O silêncio aqui em casa é de ouro, de modo que o vosso presente vale... ouro! Bem, e por falar nisso, já oiço um choro ao fundo. Aí vou euuuuuu..

Raúl Solnado: 1929-2009

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Ele foi o meu primeiro entrevistado. Em 1996 ou 1997, já não sei precisar. Sei que ia nervosa mas pouco depois de me sentar no sofá de sua casa descontraí. Eu tinha 22 ou 23 anos e escolhi-o como primeiro entrevistado de fundo, no DNA, por causa da obra, claro, mas também porque achei que um homem com aquele olhar e com aquele sorriso só podia ser boa pessoa. E quis-me estrear com uma boa pessoa. Fiz bem. A intuição não me enganou. Raúl Solnado foi doce, deslumbrou-me com as histórias que contou, com a forma humilde como desvendou a uma miúda a sua vida tantas vezes desvendada. Abriu a alma e falámos umas 3 ou 4 horas. Trouxe muitas cassetes (meu deus, cassetes!) e entrei na redacção feliz.
Quando a entrevista foi publicada, Raúl Solnado ligou-me. Estava emocionado, agradeceu, disse que se revia ali. E isso, para mim, foi tudo. Mas ele foi ainda mais longe. Convidou-me para almoçar e transformou-se no primeiro homem a levar-me ao Gambrinus. Almoçámos, saímos de braço dado pela Rua das Portas de Santo Antão e eu, com 22 ou 23 anos, soube que estava na presença de um homem raro.
Ontem morreu o Raúl Solnado, o actor, o homem que escolhi para a minha estreia nas entrevistas. Ontem, ao ouvir a notícia, senti um aperto no coração como se me tivesse morrido alguém da família. Ser jornalista é também isto: ver desaparecer gente que crescemos a admirar, que tivemos a oportunidade de conhecer, e que, por isso mesmo, se tornam também os nossos mortos. Resta-me o consolo de saber que ele morreu depois de muito ter vivido. Resta-me a esperança de que não seja nunca esquecido. Até sempre, Raúl.

(Quando chegar a Lisboa vou à procura dessa entrevista e ponho-a aqui, para quem tiver vontade de ler)