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Cocó na fralda

Cocó na Fralda

Peripécias, pilhérias e parvoíces de meia dúzia de alminhas (e um cão).

Movimento Cívico

E porque eu sou caótica, e porque já me tinham dito que havia um Movimento Cívico Levem a Sete à Colômbia, e porque se mete isto e aquilo e mais alguma coisa... ainda não tinha tido oportunidade de lá ir ver o que era nem de postar aqui sobre isso... o mesmo é dizer, na verdade esqueci-me. Mas como mais vale tarde que nunca, cá vai.
A Sete precisa de ir à Colômbia defender a tese de mestrado em Género, Mulher e Desenvolvimento. A coisa parece custar umas boas pipas, até porque a Colômbia não é o Colombo, não fica na segunda circular e diz que é preciso pagar bilhete de aviões e tudo... E aquilo tocou-me. Uma pessoa querer ir defender a sua tese, ainda por cima num tema que me é querido... pronto. Podem contribuir para esta causa (uma causa não tem sempre de ser gente a sofrer de doenças raras e horríveis) através do NIB: 003505570003099100061.
Ela fica toda contente com 5 euros, 10 euros e vai ficando sucessivamente mais contente (imagino eu) com os valores crescentes. Para os mais desfavorecidos, vá, 5 euritos. Para os que não sabem o que fazer ao dinheiro, cheguem-se à frente (e se sobrar alguma coisinha digam que eu ponho aqui o meu NIB também).

Os austríacos são gente que não está bem

E aquilo na Áustria? Depois de Natascha Kampusch, agora esta do pai que fechou a filha durante 24 anos na cave da casa. Vinte e quatro anos! Ao mesmo tempo que a privou da liberdade, abusou sexualmente dela (já disse que era a filha, não já?) e desses abusos nasceram 7 (sete) 7 filhos! Um morreu à nascença (e foi cremado no forno lá de casa), três foram "adoptados" pelo casal (ao que parece, a mulher deste monstro, e mãe da prisioneira, nem sonhava o que se passava, acreditando que a filha tinha sumido misteriosamente), e os outros três permaneceram com a mãe (e simultaneamente irmã) dentro da cave, que não tinha luz natural.
O que é que se passa com os austríacos, pá? Pelo sim pelo não vou manter-me longe da Áustria nos próximos anos.

Ponto negro promovido

- Humm... Que estranho... Isto parece-me um sinal. É um sinal. Curioso. O poro está aberto, realmente parece um ponto negro. Mas aos 3 anos era impossível. Só um bocadinho que vou ali buscar uma lupa para ver melhor.

Eu, o Ricardo e o Martim ficámos à espera. O Tim sentado na marquesa a abanar as pernas, com aquele ar insolente. Olhei para o Ricardo, mordi o lábio e disse:
- Vou ter de confessar as minhas investidas ao sinal... Não achas?
Ele concordou. Preparei-me para o regresso do dermatologista. Quando ele chegou, confidenciei baixinho:
- Errrr... Vou ter de confessar que fiz umas investidas para tentar tirar aquilo que eu achava ser um ponto negro... Não foram muito fortes, porque lhe doía e porque não o queria marcar. Mas...
O médico, impecável, apressou-se a sossegar-me.
- Não se culpe nem se martirize. Este sinal é curioso porque parece, efectivamente, um ponto negro. As suas investidas não lhe farão mal nenhum.

E pronto. É oficial: O Martim tem um sinal preto forte, que parece mesmo-mesmo um ponto negro, bem em cima do nariz. É provável - muito provável mesmo, diz o doutor - que seja um sinal de família, que já vem passando de geração em geração (do lado do meu progenitor, claro, "Se Deus o marcou defeito lhe achou").
O meu sinal grande está na bochecha. O do dito senhor está no pescoço, salvo erro. A minha tia tinha no lábio, a la Cindy Crawford (só que em versão beata-faz-hóstias-para-a-igreja, que descanse em sossego, pobre senhora). A minha irmã tem nas costas. E o Tim tem... no nariz. Bem-vindo, minha ovelha negra. Já tínhamos percebido a que lado da família puxavas. Agora não há mesmo qualquer dúvida.

Uma família de queques, um comando de televisão e dois gins tónicos... fraquitos

Lá na quinta onde passámos o fim-de-semana, havia uns queques (nome fofinho para 'tios', 'betos', 'ricos-ou-a-armar-ao-rico') daqueles que julgam que tudo é propriedade sua. Já conheci algumas criaturas destas e o seu comportamento sempre me fascinou.
Estava eu na sala de estar da Quinta do Marco (uma sala enorme, cheia de bom gosto, uma parede de pedra, uma lareira imponente, uns sofás confortáveis e um plasma gigante), a beber um gin tónico e a trincar uns salgadinhos, antes do jantar, quando um destes 'tios' se jogou para uma poltrona e agarrou no comando da televisão. Eu, que até então via as notícias na SIC, passei a ver futebol na TVI. Ainda tossi uma vez. E ele nada. Depois chegaram os filhos (vários) e foi preciso tossir com mais força, para ser escutada. Ele escutou. Mas nem se apercebeu. Pedi mais um gin e pensei: Mais uns goles nisto e vou ali roubar-lhe o comando. Quando mudar de canal e ele olhar para mim, surpreendido, deito-lhe a língua de fora. Mas, afinal, o gin não teve assim tanto poder. E dei por mim a pensar que aquela família (enorme, entre irmãos, cunhados, filhos, sobrinhos e avós) seria a proprietária da Quinta.
Mas não. Não eram. Acontece que este tipo de malta tem esta peculiar capacidade: entram, sentam-se, espojam-se, falam alto e dispõem de tudo como se tudo fosse seu. Os outros? Os outros são os Silva desta vida, são invisíveis. Pessoas como estas têm este efeito em mim: odeio-os e, ao mesmo tempo, fascinam-me. A forma como se mostram superiores deve de certeza ajudar a que os tratem como superiores. Até ao dia em que um ou dois gins bem servidos façam a diferença. Ainda não foi desta.

Venham mais destes






Mas que fim-de-semana tão bom. Na quinta-feira, nós e eles rumámos a pontos distantes no mapa. Nós pegámos no carro e fomos para o Algarve. Eles foram de comboio com a tia Nana para uma terra perto de Viseu. Eles, pelo que sei dos relatos ao telefone (ainda não chegaram), semearam batatas, deram de comer às galinhas, andaram de tractor. Nós... nós fomos felizes. Vimos umas 20 casas (andamos à procura de uma para comprar) mas também fizemos praia e piscina. Namorámos, dormimos, ouvimos passarinhos, apreciámos o silêncio, ficámos calados de mão dada a olhar para as estrelas, rimos (rimos muito quando estamos os dois), não mandámos calar ninguém, nem gritámos, nem tivemos que nos preocupar com nada. Rigorosamente nada.
Ficámos numa quinta maravilhosa. Recomendo vivamente. Chama-se Quinta do Marco e é lindíssima, cheia de recantos bem inseridos na paisagem, no meio da serra algarvia mas com vista de mar, a 7 quilómetros de Tavira.
Agora, estamos já de regresso. Com a pele tostada do sol, uma moleza boa no corpo, e a usufruir, ainda, do silêncio. Os rapazes vêm a caminho para nos encher a vida de confusão, alegria e, também, cansaço. Gostamos muito deles, naturalmente. Mas quando estamos os dois, sem eles, percebemos o quanto gostamos um do outro e o quanto precisamos destes momentos a dois. Felizmente que temos na família tanta gente a oferecer-se para ficar com os rapazes. A todas essas pessoas, o nosso muito e muito obrigado.

Este poema dá cabo de mim e um dia hei-de sabê-lo de cor

Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio, Cântico Negro

Hoje fomos 3 velhotas a tricotar num Centro de Saúde


Hoje o almoço caiu-me mal. Comi o de sempre desde há quase 3 semanas a esta parte: uma sopa e uma salada. Mas não foi por isso que fiquei assim, indisposta, até porque o estômago começa a acostumar-se, devagarinho, a esta frugalidade imposta. A razão da minha indigestão foi a conversa. Tudo começou com a Pipoca a contar a saga da sua misteriosa dor na perna. Daí para histórias de dores inexplicáveis que deram em quinanço súbito foi um instante. Depois, veio a história de F., que morreu ontem vítima de muitas doenças prolongadas (ou sempre a mesma, em diferentes frentes ao longos de vários anos), e que deixou um filho de 11 anos e outra de 24. A seguir, Perante o Riso Geral acrescentou mais uma ou outra desgraça. Eu lembrei outras. E, de repente, a sala onde comemos das nossas marmitas tinha-se transformado numa sala de espera de Centro de Saúde. E nós tínhamos 70 anos, vestíamos roupa preto-luto, e estávamos com as mãos postas no colo e uma expressão dolorida.
Fui para o meu lugar mas já não estava grande coisa. Para ajudar, a minha mãe ligou em choque. Uma amiga que trabalhava numa loja perto da nossa casa morreu, assim de repente, sem avisar. Tinha 41 anos e o coração desistiu de bater. Na semana passada, ao tomar café com a minha mãe, a senhora estava feliz com a sua resolução: "Vou mesmo deixar de fumar. Desta é que é." E foi mesmo. Largou o fumo e, de caminho, largou o resto.
Hoje o dia foi isto. Pensar em doenças traiçoeiras e paragens cardíacas. E depois admiro-me de estar com a neura, de me sentir nublada por dentro, e a procurar um sentido para tudo isto.
Amanhã falamos de nascimentos, casamentos, festas e alegrias, sim meninas? Sim?
Obrigada.

Não morri

Não morri. Não ganhei o Euromilhões e, por isso, não ando ocupada a estoirar dinheiro e a fazer muita gente feliz. Desapareci por uma semana porque durante uma semana não tive nada para escrever. Foi esquisito mas, de nada encontrar para escrever e de nada ter escrito, é quase como se não tivesse vivido. O que fiz na semana que passou? O que foi de mim, nestes dias que passaram sem escrever? Penso nisso e assusto-me: até que ponto poderei estar viciada nesta coisa de blogar? Consegui não postar nada durante uma semana, sim, é verdade. Mas também é certo que me soube a pouco a existência sem o lado da escrita desta espécie de diário público. Hoje continuo sem grandes coisas para escrever. Mas cá estou, a retomar o exercício de transformar os meus dias em palavras. A ver se, assim, isto a que chamamos vida me faz mais sentido.

Olé!

Acabo de protagonizar uma daquelas cenas domésticas perfeitas para ser gozada o resto da vida. Ao longo destes quase oito anos de casada já me aconteceram algumas: já caí por duas escadas abaixo, já escorreguei em cima de uns saltos gigantescos, já vomitei na rua (e não foi quando estava grávida, if you know what I mean...).
Ora bem, esta foi a melhor. E estou neste momento a olhar para o Ricardo e ele continua a rir desbragadamente. A nossa sala tem três janelões do chão ao tecto que dão para um terraço que, por sua vez, dá para o jardim do condomínio. Os putos estão lá fora, numa festa de aniversário de um amiguinho vizinho e, de repente, ouvi o mais pequeno chamar-me com insistência. Levantei-me a correr e avancei para o terraço. Só que... as portas de vidro estavam fechadas. Conclusão: marrei violentamente com a cabeça no vidro, tão violentamente que o meu corpo foi atirado para trás. Por uns segundos perdi os sentidos. O Ricardo desligou o telefone e veio a correr. O senhor lá fora tinha a boca aberta de espanto e preocupação. Por uns momentos fiquei atordoada, a chorar de dor mas sem conseguir articular muitas palavras. Depois ri-me. E foi então que ele começou a gargalhar como se não houvesse amanhã. Já passou uma meia hora e ele continua a dizer que foi "do melhor".
Quanto a mim, tenho uma dor forte na testa (e no cérebro, acho) e sinto-me levemente idiota. Evidentemente que não tornarei a aproximar-me da janela enquanto houver uma única pessoa que possa ter assistido ao meu desaire. E pergunto-me quantas células terei morto com a minha marrada.

A minha sósia e eu



Sempre. Mas sempre, sempre, sempre.
Sempre que esta senhora aparece na televisão, sempre que a televisão passa um filme em que ela tenha entrado, no dia seguinte é tão certo como o dia ter 24 horas: toda a gente me diz a mesmíssima coisa:
- Epá, ontem estava em casa e, de repente, vi-te num filme! É que eras tu! É que eras mesmo! É que era impressionante. Incrível, pá.
E eu, que ao princípio não a conhecia pelo nome, passei a saber de cor o nome e o apelido. Porque até eu - e todos sabemos como é raro acharmos que somos parecidos com alguém -, até eu, dizia, acho que é verdade. Sou realmente parecida com a Jeanne Tripplehorn (em menos gira, vá). Hoje, no canal Hollywood, lá estava ela, a fazer de psiquiatra maluca no Instinto Fatal. Amanhã é certinho que alguém me vai dizer:
- Epá, ontem estava em casa e, de repente, vi-te num filme! É que eras tu! É que eras mesmo! É que era impressionante. Incrível, pá.


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